Em entrevista concedida ao blog de Josias de Souza¹, vinculado à Folha, o ex-deputado Raul Jungmann voltou a direcionar sua artilharia antiarmas contra os atiradores desportivos e clubes de tiro, acusando-os, novamente, de vinculação com o tráfico de armas e a criminalidade.
A acusação é lamentável, não só pela absoluta falta do mínimo substrato, mas também pelas inverdades propaladas em nítido desconhecimento, sequer do básico, sobre as atividades dessa classe de esportistas.
Sobre a entrevista, a primeira alegação a ser registrada é a de que “clubes de tiro viraram ralos por onde escoam armas”. Nada mais absurdo! Acreditar que atiradores desportivos passem por toda a burocracia a que estão sujeitos, comprem armas por valores altíssimos e, depois, as vendam ilegalmente por 20% ou menos do preço é desafiar a lógica, até mesmo financeira.
É preciso que se deixe claro que atiradores não têm absolutamente nenhum desconto para a compra de armas, como alguns podem pensar. Pagam o valor cheio por elas, com a incidência de todos os tributos e o recolhimento de todas as taxas que incidem sobre o procedimento, inclusive muitas que não se aplicam ao cidadão comum. E se pagam caro, qual o propósito de depois vendê-las por fração do preço?
Ao que se sabe, as atividades criminosas são motivadas pelo lucro, e comprar caro para vender barato não se parece com qualquer operação lucrativa - a não ser que o ex-deputado tenha encontrado alguma fórmula mágica para que se subvertam os resultados das operações matemáticas.
O segundo aspecto é o manifesto desconhecimento do ex-deputado sobre a quantidade de armas que um atirador pode possuir e transportar. Ao contrário do que ele aleatoriamente afirma, cada atirador não sai por aí, muito menos para competições, com doze armas, pois este, em verdade, é o número máximo de armas que cada um pode ter em seu acervo, ou seja, é o limite máximo de compra para a atividade de tiro desportivo. Para as competições, o atleta do tiro somente pode transportar a arma relativa à modalidade que está sendo disputada. Isso é básico, mas o ex-deputado, que se arvora a discorrer sobre o tema, simplesmente desconhece tais fatos.
O último trecho da entrevista digno de repulsa é a alegação de que traficantes se inscrevem em clubes de tiro para ter acesso às armas. Novamente, um argumento falacioso, sem nenhuma correlação com a realidade, lançado de forma pueril e, como sempre, sem o exemplo que o justificaria. Quais os traficantes que se inscreveram e clubes de tiro? Cadê os nomes? Onde está a notícia?
A afirmação leviana novamente desafia a lógica. Caso o ex-deputado não saiba, para se inscrever como atirador o interessado precisa cumprir um conjunto de exigências às quais um traficante jamais se submeteria, até porque, se o fizesse, não teria como nelas ser aprovado. São certidões negativas de todas as esferas judiciais, bons antecedentes, comprovação de ocupação lícita, de residência fixa, avaliação técnica, psicológica, vistoria em sua residência, pagamento de taxas de fiscalização e obtenção de registro, dentre outros. Após isso, cada arma que for adquiria é lançada no acervo do atirador, com registro próprio e vistoria do local e das condições de guarda, na qual são checados todos os dispositivos de segurança.
Não é necessário nenhum esforço para se concluir que um traficante, visando adquirir armas para fins ilícitos, jamais se submeteria a tão rigoroso procedimento de registro, sobretudo quando armas ilegais, como o próprio ex-deputado reconhece, podem ser adquiridas no mercado negro, sem nenhuma burocracia e por valores muito inferiores aos cobrados legalmente.
Um dos maiores riscos que um indivíduo pode correr é se propor a falar sobre o que não conhece sequer minimamente. Quando isso ocorre, os despautérios latentes acabam comprometendo toda credibilidade do discurso, tornando seu autor suspeito até quando poderia estar dizendo a verdade. O ex-deputado que o diga.
¹ http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário