O G1, portal de notícias da poderosa rede Globo, estampa hoje dentre suas matérias o caso do “ajudante geral” que, em maio de 2010, esfaqueou três pessoas em um supermercado de Guarulhos (SP), matando uma delas.
De pronto, me pergunto a razão de chamarem esse outro assassino de ajudante geral, qualificando-o de louco, e não “esfaqueador”. Quando o objeto usado para o crime é uma arma de fogo, todos fazem questão de rotular o assassino de atirador – termo, aliás, absolutamente infeliz, pois designa toda uma classe de dignos atletas praticantes do tiro desportivo. Porém, se é uma faca, o meio já não é importante; o que vale é dizer que o cara era louco. O mesmo acontece com os crimes de trânsito, onde se fala no “atropelador” (conduta), mas não no “motorista” (qualidade). Mas vamos deixar isso de lado, por enquanto.
O fato a ser friamente analisado é que loucos podem cometer crimes de qualquer forma, seja lá qual for o objeto empregado. O caso do supermercado de Guarulhos é um exemplo, mas, nele, ninguém vai para a TV debater como um louco pode ter acesso a esse tipo de arma (e faca é arma branca, sim), discutir se ele teve treinamento ou assistiu várias vezes o Rambo para aprender a golpear os pontos vitais das vítimas, muito menos começam a propor formas de controlar a produção de facas, proibir seu porte, o comércio, nada disso.
Em outro episódio, não faz muito tempo, um indivíduo conduzindo um automóvel atropelou intencionalmente um grupo de ciclistas em Porto Alegre. O carro foi a arma, mas ninguém, até agora, foi a público sugerir um plebiscito para se proibir a produção e a circulação de carros no país. Por quê?
Se é para adotar o ilógico discurso de se culpar o objeto, e não a conduta, que se o faça, pelo menos, coerentemente.
Contam por aí, como se lusitana fosse, a anedota do marido que descobre estar sendo traído pela esposa no sofá da própria casa. Na anedota, após o alerta de um amigo, o marido resolve dar uma solução definitiva para tamanho absurdo: vender o sofá.
Tenho minhas dúvidas de que isso seja, mesmo, uma solução lusitana.
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