quarta-feira, 13 de abril de 2011

A Política por Trás do Plebiscito

O Presidente do Senado pode ser tudo, menos burro; isso ele definitivamente não é. Aliás, se fosse, não teria chegado onde chegou. Então, como justificar que, diante da tragédia de Realengo, encampe uma proposta tão descabida como a de realização de um inservível plebiscito, mesmo com todas as pesquisas em curso nos diversos veículos de mídia apontando que o resultado não seria diferente do de 2005, até com uma margem muito maior?  É entrar num jogo para perder.

Porém, é exatamente com isso que ele está jogando.

A questão é que, no caso, a derrota não é dele, mas sim do governo e, muito mais, do PT. E o PT sabe bem disso, a ponto de não haver dentre seus integrantes quem viesse a público defender seriamente a ideia, nem mesmo o ferrenho desarmamentista ministro da Justiça (não vou considerar a sofrível declaração de uma ministra de que a decisão do povo em 2005 não é definitiva).

Mas qual é a lógica disso? Simples: negociação. PMDB e PT travam atualmente uma batalha ferrenha por espaço no governo - leia-se: cargos - e nessa disputa vale tudo, principalmente para um partido que não esconde o descontentamento com o que considera falta de prestígio. 

O que o senador José Sarney está promovendo é uma saia justa na Presidente Dilma. Proposto o decreto para o plebiscito, a ela restariam duas opções: assinar e chamar para si a responsabilidade por uma anunciada derrota nas urnas, o que poderia sepultar de vez os ideais desarmamentistas, ou não assinar e ser vista como contrária ao desarmamento. Em outros termos, puro instrumento de pressão.

No fundo, o que se espera é que a presidente não chegue a ter de decidir. Nos próximos dias, com o retorno dela da China, a negociação (aquela dos cargos) deve ser retomada e muito provavelmente a ideia do plebiscito não vá adiante. Um acordo, travestido de voto de confiança ao Ministério da Justiça em sua nova campanha de desarmamento, pode ser uma saída honrosa. Ou podem só esquecer a ideia, como outras tantas que hoje dormem no Congresso.

Mas se Sarney não conseguir o espaço que deseja, a tal saia justa pode vir a incomodar bastante a Presidente.

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