Em momentos de euforia, costuma-se perder um pouco aquele filtro que funciona entre o cérebro e a língua, fazendo com que a espontaneidade, às vezes terrível, traga à tona sentimentos que o mínimo de humanismo imporia esconder. É o que ocorre quando, por exemplo, diante de tamanha tragédia como foi a da escola em Realengo, alguém declara estar feliz por poder levar adiante suas ideologias.
Feliz?! Como pode alguém se dizer feliz diante de uma ocorrência de tal natureza?
Mas pode. Depois da reunião com o Ministro da Justiça, na qual se resolveu antecipar a nova campanha do desarmamento (do cidadão de bem, como sempre), o representante da Ong Viva Rio declarou estar “feliz”. A declaração, aliás, está bem destacada em um portal de notícias¹, na mesma rede que lhe concede, sempre, um generoso espaço, sem contraposição.
É óbvio que ninguém em sã consciência vai acusar o referido representante de estar feliz com a tragédia. Seria por demais desumano. A felicidade dele é com a oportunidade de, mais uma vez, tentar emplacar suas mirabolantes teorias sobre os efeitos do desarmamento nos índices de criminalidade, através de pesquisas que não aparecem nunca, mas cujos resultados, contrariando tudo o que o mundo já experimentou sobre o assunto, são invocados como verdades absolutas – tal como a alegação de que o Brasil é o país mais armado do globo, quando na verdade não passa da 25ª colocação.
Ainda assim, para dizer o mínimo, diante da dor das famílias e amigos das vítimas, bem assim de toda a comoção imposta ao país pelo episódio, declarar-se de qualquer forma feliz em consequência dele, ainda que indiretamente, assemelha-se ao desrespeito. Uma grande infelicidade.
[1] http://g1.globo.com/Tragedia-em-Realengo/noticia/2011/04/governo-decide-antecipar-campanha-pelo-desarmamento.html
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