domingo, 22 de maio de 2011

Entrevista na Folha de Londrina (PR)

'A arma que mata é a do criminoso'

Movimento Viva Brasil, que defende o direito do cidadão ter arma, argumenta que a impunidade é a principal causa da violência

As campanhas de desarmamento, incentivadas pelo governo federal, não contribuem para reduzir a criminalidade no País. A avaliação é do Movimento Viva Brasil, organização não governamental que defende o direito do cidadão comum ter arma para garantir a própria defesa.

Para os integrantes do movimento, enquanto a população se desarma, o comércio ilegal de armas garante o abastecimento dos criminosos. ''A política de desarmamento é um equívoco e não deu certo em nenhum lugar do mundo'', argumenta o advogado Fabrício Rebelo, especialista em segurança pública e dirigente da Viva Brasil.

A entidade, diz ele, está preocupada com a insistência do governo em desarmar a população. Argumenta que o número de homicídios permanece inalterado, enquanto a população, que rejeitou a proibição da comercialização de armas de fogo no País no referendo de 2005, fica mais vulnerável à ação dos bandidos. Para Rebelo, a redução dos números da violência só vai ocorrer quando aumentarem os índices de resolução de crimes.

Por que o governo insiste no desarmamento da população?


Porque essa é uma política que dá mídia. Ela não dá resultados, mas transfere para a população uma parcela significativa da responsabilidade pela violência urbana. E faz com que o cidadão se sinta na obrigação de participar de um movimento pelo qual se possa resolver a questão. Essa é uma política completamente equivocada. A prova maior de que não funciona está na redução de 90% do comércio de armas e munição no País, sem uma redução nos índices de homicídio. Não são as armas legalizadas, as armas compradas no comércio especializado, as responsáveis pela violência.

O que provoca a violência, então?
Existem dois fatores principais. O primeiro é o crescimento do tráfico de drogas. Com o tráfico de drogas crescem todas as atividades criminosas vinculadas: os pequenos furtos para a compra da droga, as disputas por pontos de drogas entre traficiantes, que geram inúmeros homicídios, os roubos para abastecer de forma mais significativa o tráfico. Esse é um problema para o qual não se pode fechar os olhos.

Tão relevante quanto o tráfico é a questão da impunidade. Hoje o Brasil vive uma crise séria porque o criminoso não tem receio de ser punido, de ser preso. E sem punição, ele vai continuar na criminalidade.

Em que casos a ong Viva Brasil considera legítimo o uso da arma?
A ong considera a arma de fogo um elemento essencial para o exercício eficaz da legítima defesa. A arma deve ser utilizada pelas forças policiais que estão legalmente incumbidas do combate ostensivo à criminalidade e, entendemos, todos os cidadãos que tenham condições técnicas e psicológicas para fazer uso da arma como instrumento de sua própria defesa.

O que não aceitamos é que se retire do cidadão essa possibilidade de autodefesa. Somos contra deixar o cidadão à mercê da ação criminosa contando exclusivamente com a força policial, que não pode estar presente em todos os lugares durante todo o tempo.

O fato de a população estar desarmada facilita a ação dos bandidos?
Com certeza. Desde a vigência do Estatuto tivemos o desarmamento significativo da população até pela dificuldade de acesso às armas, mas tivemos crescimento dos índices de violência. Em todos os países em que se tentou a ação desarmamentista junto à sociedade como forma de combate à criminalidade, o resultado foi exatamente o oposto. Isso aconteceu na Inglaterra, onde a criminalidade subiu 300% depois da proibição das armas. Se conseguiu uma redução nos primeiros anos em relação aos homicídios com armas de fogo, mas os homicídios por outros meios - facadas, garrafas, espancamento - cresceram tanto que superaram a queda que se conseguiu com os homicídios com armas de fogo.

 Além disso, aumentaram vertiginosamente as invasões de residências com os proprietários dentro. Com isso aumentou a quantidade de crimes de natureza sexual, quando há mulheres no interior das residências. Hoje a Inglaterra vem flexibilizando a lei, vem criando possibilidades para que o cidadão volte a ter acesso à arma de fogo, e se multiplicam os movimentos sociais para que a lei seja completamente revogada.

O senhor quer dizer que o desarmamento não funciona?
É uma fórmula que não funcionou em lugar nenhum. Se fosse para funcionar no Brasil, já teria funcionado. Tivemos uma redução na venda de armas de fogo no País na ordem de 90%, mas os índices de violência continuam em patamares altíssimos. Em 2003 eram mais de 50 mil homicídios por armas de fogo por ano. Em 2008 o número foi exatamente o mesmo. Cinco anos após a vigência do Estatuto não houve redução nos índices de homicídios. É uma fórmula testada e não aprovada. O governo, ao insistir nela, está aplicando a mesma fórmula e esperando um resultado diferente, o que fatalmente não vai acontecer.

O fechamento de 90% das lojas de armas veio contribuir para o comércio ilegal, inclusive nas fronteiras?
Um problema central que temos para o abastecimento da criminalidade hoje é o tráfico internacional. É muito fácil entrar no Brasil com uma arma ilegal. O País tem uma imensa área de fronteira, uma fiscalização bastante deficitária. Em vez de investir na fiscalização, o que o governo tem feito é fragilizá-la. Este ano, por exemplo, o orçamento da Polícia Federal sofreu uma redução e a fiscalização de fronteira vai ficar no mínimo 40% menor. São portas abertas para o tráfico de armas.

Basta assistir aos noticiários e lermos os jornais para vermos o tipo de armamento que é apreendido com a criminalidade: fuzis, metralhadoras, pistolas 9 milímetros etc. São armas que nunca foram vendidas no comércio especializado.

A gente percebe um aumento de roubos na Zona Rural. Isso também está associado à questão do desarmamento?
Completamente. É um dos índices de criminalidade que cresceram muitíssimo no País com a edição do Estatuto do Desarmamento. E quem está nessas propriedades, quem ali trabalha, quem ali reside, só pode contar consigo mesmo para se defender. Tirar dessas pessoas a possibilidade de ter uma arma para defesa favorece uma ação criminosa. Tirar a arma só deixa a certeza no bandido de que ele não vai encontrar reação. Essa é uma falha enorme na legislação, que não prevê essas situações. Ela trata o cidadão que mora na cidade, ao lado de uma delegacia, da mesma forma que trata o cidadão que mora numa fazenda, distante duas horas da força policial mais próxima. É deixar extremamente vulnerável a população rural, sem dúvida.

O que o movimento sugere para se reduzir a criminalidade?
Precisamos ter índices de solução de criminalidade efetivos. Não adianta combater a arma que circula entre a população quando 92% dos homicídios cometidos no País ficam sem solução. Ao fazer isso, estamos desarmando a vítima. Se temos 92% dos homicídios sem solução, temos logo de início a constatação de que a esmagadora maioria dos crimes não é cometida como fruto de qualquer relação interpessoal. Sabemos que não foram crimes cometidos por vizinhos, maridos, em brigas de bar ou de trânsito, porque esses são facilmente elucidados. Não adianta ficar perdendo tempo para se tirar de circulação a arma que não mata. A arma que mata é a que está na mão do criminoso e é o criminoso que tem que ser retirado de circulação. Vamos atrás da arma criminosa.


Eli Araujo
Reportagem local


Versão online: http://www.folhaweb.com.br/?id_folha=2-1--3275-20110522
Versão .pdf: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B4w-Fk1OglzXNmE4ZWZjNWUtMDBlYy00YTBjLWEwYWItNDcxNWNjMDFkNGE3&hl=en_US&authkey=CPyVzc4L&pli=1
Versão impressa digitalizada: https://picasaweb.google.com/lh/photo/IcJwJStfohOK2Kw7L0L40rGJ3gyG71inkO6dxKvpXDg?feat=directlink

terça-feira, 17 de maio de 2011

Lições de um fracasso pré-anunciado.

* Por Fabricio Rebelo


No último dia 06 de maio, o Ministério da Justiça, valendo-se da comoção nacional provocada pelo lamentável e fatídico massacre de Realengo, lançou no país mais uma edição da campanha de desarmamento voluntário, novamente sob a alegação de que tais investidas produziriam resultados na redução da criminalidade. Conforme já se pré-anunciava, a adesão popular aos apelos do Governo tem sido ínfima, com menos de 300 armas entregues até o momento e, ainda assim, em boa parte graças a empresas que desativaram serviços de segurança privada e ainda não tinham regularizado as armas que possuíam, a exemplo da CEASA do Rio de Janeiro, doadora, sozinha, de um lote de 77 armas. São números que revelam o fracasso da campanha e o desperdício da verba pública nela investida.

Os responsáveis pela nova campanha – e por seu fracasso – novamente erraram ao subestimar a inteligência e o senso crítico da população brasileira, ao tentar nela incutir, mais uma vez, uma ideia falsa e, mais do que isso, comprovadamente ineficaz.

Em 2005, com maciço apoio da mídia e sob o calor do referendo pelo qual se buscava proibir o comércio de armas de fogo no país, uma campanha de desarmamento arrecadou cerca de 500 mil armas, um arsenal maior do que o disponível para as forças policiais brasileiras, em suas diversas esferas. A promessa era a de que isso reduziria a criminalidade. Três anos depois, os homicídios no país haviam saltado de 47.578 para 50.113 por ano, comprovando que a quantidade de armas em circulação na população civil comum não tem relação com o número de crimes, pois não são estas as armas que matam.

A ineficácia do desarmamento civil foi prontamente sentida pela população, para a qual não se verificou nenhuma melhoria em segurança. Como consequência, a campanha seguinte, realizada em 2008, não contou com adesão sequer minimamente expressiva, totalizando uma arrecadação aquém de 10% do quanto arrecadado na campanha anterior.

Agora, mesmo com a criminalidade crescente e já se tendo comprovado que a “culpa” disso não passa nem perto do cidadão comum, o Governo retoma uma fórmula falida, esperando apenas empiricamente que desta vez o resultado seja diferente. Não será. Como fica claro a cada novo dado sobre a violência divulgado, o Brasil não é um país de assassinos; não é a arma que o cidadão comum pode ter para sua defesa que mata. O Brasil é hoje um país de vítimas, ameaçadas pelo arsenal de armas ilegais em poder do narcotráfico, que financia e respalda a imensa maioria das atividades criminosas a ele periféricas.

Para as armas que realmente matam, as campanhas de desarmamento são absolutamente ineficazes.

A sociedade brasileira já chegou a esta conclusão e mostra não mais aceitar que lhe seja transferida a responsabilidade pela ineficiência do Estado em combater o crime. A ausência de adesão a mais essa reedição da campanha de recolhimento de armas é apenas mais uma prova. Espera-se, doravante, que o recado seja compreendido pelos responsáveis em conduzir as políticas de segurança pública no país, a fim de que deixem de lado meras ideologias pessoais e passem a atacar o cerne da questão: os criminosos e suas armas marginais.


* Fabricio Rebelo é bacharel em direito, assessor jurídico, pesquisador em segurança pública, coordenador regional (Nordeste) e diretor nacional para Colecionadores, Atiradores e Caçadores da ONG Movimento Viva Brasil.

# AUTORIZADA A REPRODUÇÃO, DESDE QUE NA ÍNTEGRA E PRESERVADA A AUTORIA #

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Bahia: muitos crimes e pouca solução.

* Por Fabricio Rebelo

O estado da Bahia é atualmente o vice-campeão no ranking de crimes cometidos por arma de fogo, com o expressivo percentual de 81,3%. Salvador, a capital, tem números ainda mais altos: 93,6%. Estes são os dados divulgados em recente pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios – CNM, analisando a criminalidade nos estados brasileiros.[1]
 
Paralelamente a tal triste realidade, dados de pesquisa realizada pelo Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP apontam que o estado é o 5º pior do Brasil no ranking de resolução de inquéritos policiais em crimes de morte, acumulando um saldo de 10.145 homicídios sem elucidação[2]. Em termos práticos, os dados apontam que o estado deixou de punir, ao menos, 10.145 crimes que resultaram em homicídio, simplesmente por desconhecer seus autores, as condições em que foram praticados, o armamento utilizado e sua origem. São crimes que permanecem envoltos em absoluto mistério.

A confrontação entre as duas pesquisas indica haver relação causal entre o número de homicídios e o de sua elucidação, pois que, a exemplo da Bahia, justamente nos estados com menores taxas de elucidação criminosa é que se concentram as maiores taxas dos crimes de morte. E, a bem da verdade, não poderia ser diferente, pois a ausência de elucidação de crimes traz como consequência direta a impunidade, hoje indiscutível fator sobrelevante para a fomentação criminosa.
 
No outro extremo, pode-se tomar como melhor exemplo de sucesso no combate ao crime o estado de São Paulo, destacado no “Mapa da Violência 2011”, estudo fruto de parceria entre o Ministério da Justiça e o Instituto Sangari, como o estado que mais conseguiu reduzir os índices de homicídio: 62,4% em dez anos. A fórmula? Repressão ao crime, através de investimento na polícia e punição dos criminosos.
 
Os investimentos na área de segurança pública em São Paulo fizeram o estado evoluir significativamente nos índices de resolução de homicídios, saltando de uma taxa de apenas 10% para 47%, com a capital beirando os 70% de crimes de morte elucidados. Consequentemente, mais criminosos vêm sendo punidos, o que se comprova ao se constatar que o referido estado, mesmo possuindo uma participação de aproximadamente 11% na população brasileira, detém 40% da população carcerária. Em São Paulo, portanto, mais crimes são elucidados e mais criminosos são presos, resultando, exatamente, na redução dos índices de criminalidade.
 
Para a Bahia, infelizmente, isso ainda é uma realidade distante. No mesmo período em que São Paulo conseguiu reduzir seus homicídios em 62,4%, o maior estado do Nordeste experimentou um crescimento de 237,5%. Como alento, tem-se que os números começam a mostrar o caminho, aflorando uma realidade inquestionável: resultados imediatos para a redução da criminalidade e, sobretudo, dos homicídios somente podem ser alcançados com investimentos em elucidação dos delitos e punição de seus autores.
 
Que o exemplo paulista seja seguido na boa terra.

 

* Fabricio Rebelo é bacharel em direito, assessor jurídico, pesquisador em segurança pública, coordenador regional (Nordeste) e diretor nacional para Colecionadores, Atiradores e Caçadores da ONG Movimento Viva Brasil.
# AUTORIZADA A REPRODUÇÃO, DESDE QUE NA ÍNTEGRA E PRESERVADA A AUTORIA #

[1] http://www.atarde.com.br/noticia.jsf?id=5719463

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sem elucidação de homicídios é impossível afirmar origem do armamento utilizado

A retórica antiarmas no Brasil inclui um argumento (ou pseudoargumento) tido por impactante: o de que os homicídios seriam provocados, em sua maioria, por armas do cidadão comum, seja em conflitos interpessoais (como se fôssemos uma nação de assassinos), seja após serem furtadas ou roubadas, passando a abastecer a criminalidade. Trata-se, contudo, de um argumento falso, aliás, tão inválido que sequer pode ser minimamente considerado.

O Brasil tem um lamentável quantitativo anual de homicídios que alcança 50 mil vítimas, de acordo com os dados do Mapa da Violência 2011, estudo produzido pelo Ministério da Justiça, em parceria com o Instituto Sangari. É um número maior do que os de muitos países imersos em conflitos bélicos. Destes 50 mil homicídios anuais, apenas 4 mil são elucidados, ou seja, a cada ano, 46 mil casos de homicídio ficam sem solução. Os dados estão divulgados em matéria do jornal O Globo (link: http://eyn2q.tk).

Pois bem. Num cenário em que 92% (noventa e dois por cento) dos homicídios ficam sem qualquer solução, como é possível alguém se arvorar a afirmar que a origem das armas neles utilizadas é o comércio legal? Simplesmente, isso não é possível, ao menos, não com o mais ínfimo critério científico. Se alguém o faz, está apenas fantasiando.

Desse modo, quando entidades antiarmas aduzem que um percentual dos homicídios é cometido com armas que um dia tiveram origem legal, logo de início já estão desprezando nada menos do que 92% dos casos, justamente os que ficam sem solução, nos quais não se tem identificação do autor, do motivo, das condições e, óbvio, muito menos de qual arma específica foi empregada.

Há de se registrar que saber o calibre da arma utilizada somente pode excluir sua origem na sociedade civil, entre a qual nunca puderam ser comercializados calibres como o 9mm, .40, .45, além dos fuzis e metralhadoras. Mas a informação não se confunde com identificar a fonte do armamento, pois uma arma calibre .38, por exemplo, pode ser originária, dentre outras,  de forças policiais, guardas municipais, empresas de segurança privada e, claro, do contrabando e do tráfico internacional.

O fato, assim, é que não se conhece a origem de, pelo menos, 92% das armas utilizadas em homicídios no país.

Por outro lado, o baixíssimo índice de elucidação de homicídios somente se presta a desconstituir completamente a teoria desarmamentista. Isso porque um dos elementos complicadores mais comuns para a resolução criminal consiste, exatamente, na inexistência de relação interpessoal entre a vítima e o ofensor. É o que ocorre, apenas exemplificativamente, nos casos de roubo, de latrocínio, na grande maioria dos estupros e nos sequestros-relâmpago. São crimes em que a vítima não possui qualquer relação prévia com o ofensor e, por isso, torna-se muitíssimo mais difícil chegar à identificação deste.

Ao se demonstrar que apenas 8% dos homicídios cometidos no país são efetivamente solucionados, corrobora-se a teoria de que sua esmagadora maioria não decorre de relações interpessoais entre vítima e homicida. Portanto, quem mata, em termos significativos, não é o vizinho, o marido, o namorado, o parente ou o motorista no trânsito, mas sim alguém que não tem relação anterior com a vítima.

Disso se tiram duas conclusões imediatas: a primeira é que não somos um país de assassinos, como querem fazer crer algumas entidades antiarmas; a segunda é que, também ao contrário do que defendem, não é possível afirmar que as armas que matam tenham qualquer origem lícita, por mais remota que seja. Afinal, em 92% dos casos elas são completamente desconhecidas.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Depois do soneto, a emenda.

Após a demonstração técnica de que a entrega anônima de armas na nova campanha de desarmamento do Ministério da Justiça não era compatível com a legislação vigente, o Governo Federal alterou o decreto nº 5.123/04, para suprimir de seu artigo 70 a exigência dos dados do portador na guia de trânsito que autoriza o deslocamento para a entrega das armas. Pela nova redação do dispositivo, cabe ao Ministério da Justiça estabelecer quais são os requisitos que constarão do documento, o que também já foi feito, através da portaria nº 797.

Tal norma, ao fixar os critérios para a entrega das armas, deixou como facultativa a indicação dos dados do emitente na guia de trânsito. Na prática, isso criou uma autorização de transporte “ao portador”, ou seja, não há mais como saber se a guia foi emitida por um cidadão de bem, realmente no propósito de entregar a arma ao governo, ou, por exemplo, por um criminoso que pretenda circular com uma arma sem o risco de ser preso por porte ilegal, um integrante de quadrilha que queira mudar seu arsenal de local, ou mesmo um contrabandista de armas que ingresse no país clandestinamente, com sua “carga” coberta por um documento oficial. Todos foram igualados.

Já se receia, inclusive, que traficantes emitam guias de trânsito para seus arsenais criminosos e as entreguem a pessoas de “ficha limpa” que estejam sob seu jugo – situação comum nas comunidades comandadas pelo narcotráfico – a fim de que estas os mudem de lugar sem que haja risco de prisão. Afinal, os locais de guarda dos armamentos dos criminosos são um de seus pontos vulneráveis e precisam estar em constante modificação, o que, agora, se pode fazer com chancela do governo.

É certo que a desculpa de estar indo entregar a arma compromete sua posse, pois quem for abordado nestas circunstancias poderá perder o material transportado, podendo até ter que entregá-lo coercitivamente, sob acompanhamento de um agente policial. Contudo, mesmo nesta situação, ainda que criminoso seja, o transportador ficará impune. Trata-se, pois, de um verdadeiro salvo-conduto para a circulação de armas no país, somente fortalecendo o que, isso sim, aflora como causa incontestável da acachapante violência urbana em que este está imerso.

Novamente, o governo reitera sua tônica de responsabilizar a coisa – a arma - e isenta de qualquer responsabilidade o agente, o criminoso que puxa o gatilho, costumeiro alvo de sua complacência. É a pura e já sem graça solução de tirar o sofá da sala para evitar a traição.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um editorial memorável.

Hoje eu peço licença aos leitores deste espaço para reproduzir aqui o editorial da Band sobre a campanha de desarmamento que começa amanhã. Um material memorável.


terça-feira, 3 de maio de 2011

Ode à Impunidade

O Brasil vivencia uma inquestionável e preocupante crise na segurança pública, com índices de criminalidade crescendo vertiginosamente. Os dados do “Mapa da Violência 2011”, estudo produzido numa parceria entre o Instituto Sangari e o Ministério da Justiça, divulgado em fevereiro deste ano, apontam que o país, em 2008 – último a ser computado no estudo – voltou a ter um número total de homicídios superior a 50 mil, exatamente como acontecia em 2003. A violência cresce de forma generalizada por todas as regiões do Território Nacional, apenas com pontuais exceções.

Num cenário deste, é de se espantar que alguém possa comemorar medidas que favoreçam a impunidade, afastando ainda mais os criminosos de suas penas. Mas há quem o faça: a ONG “Sou da Paz”, contumaz defensora dos direitos dos agressores, sob o rótulo de “humanos”, como se humanas não fossem todas as suas incontáveis vítimas.

O fato que se devia lamentar é aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto de lei nº 4208, através do qual se permite adotar penas alternativas em substituição à prisão provisória, instituto do processo penal que possibilita tirar de circulação, de forma célere, criminosos com culpabilidade evidenciada, até o seu julgamento. Caso o projeto aprovado pelos deputados se torne lei, criminosos que hoje são presos e aguardam o julgamento detidos poderão ficar em liberdade, pondo em risco toda a sociedade, vítima potencial de suas ações.

E isso é para se comemorar? Para a referida ONG, sim; aliás, não só para se comemorar, mas para se alardear como grande conquista, tal como hoje estampa seu site oficial na rede mundial de computadores.

A ONG Sou da Paz parece não manter relação próxima com a realidade, vivendo num eterno e utópico conto de fadas, em que bandidos são vítimas e as reais vítimas são sempre culpadas.

Basta uma singela leitura nos jornais ou uns instantes à frente de um noticiário na TV para sermos bombardeados com grande quantidade de exemplos de criminosos que, postos em liberdade sem ainda terem cumprido a pena, fogem e voltam a se dedicar à atividade delituosa. São inúmeros os crimes cometidos por presos que estão em regime semiaberto; inúmeras as fugas de quem recebe autorização para se ausentar da cadeia em feriados; incontáveis as reincidências de quem recebe indultos; incontestável o aumento da violência urbana nas épocas em que estes são concedidos. A falência do sistema é tamanha que nem mesmo o monitoramento eletrônico de presos em liberdade provisória funciona no Brasil, pois que as tornozeleiras que a tanto se prestam são por eles cortadas, sem nenhuma preocupação com novas punições ou mesmo o temor da recaptura.

Se com as leis atuais já são tantos os casos de reincidência criminosa dentre aqueles que conseguem provisoriamente a liberdade, o que se pode esperar de uma realidade em que a prisão sequer seja efetuada?

Retomando-se os valiosos dados do “Mapa da Violência 2011”, a situação do estado de São Paulo desponta como exceção ao crescimento da criminalidade e exemplo cabal de que sua redução, de modo imediato, somente se pode alcançar com efetiva punição dos criminosos, o que, claro, inclui a prisão. Prova disso é que o estado, além de ter incrementado significativamente seus índices de resolução de crimes, igualmente vem efetivamente punindo os criminosos com penas privativas de liberdade, a ponto de haver hoje em São Paulo nada menos que 40% da população carcerária de todo o país, quando sua população total não ultrapassa os 12% do povo brasileiro. É a prova de que prisão, como elemento primário de redução do crime, é o que efetivamente funciona.

Com efeito, não há dissenso entre os especialistas na área quanto à causa imediata da alarmante criminalidade em que vivemos: a impunidade. Abraçar qualquer causa que a favoreça é, para se limitar ao básico, um enorme desserviço à sociedade, beirando a insanidade.

Certas ideologias e atitudes às vezes são bastante difíceis de explicar, pois esbarram no que o senso comum tomaria como lógica primária. Porém, o conjunto da obra, por assim dizer, de quem as defende pode servir para que tracemos ao menos alguma linha de raciocínio, na tentativa de alcançar o entendimento do que seriam seus objetivos. No caso do “Sou da Paz”, primeiro defendem fervorosamente que o cidadão de bem seja desarmado, retirando-lhe qualquer possibilidade de defesa; agora, comemoram com igual fervor uma possível alteração legislativa que afasta os criminosos da cadeia.

Numa breve reflexão: a quem beneficiam tais ideologias?


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