quinta-feira, 14 de julho de 2011

Não é comigo?

Na terça-feira fiquei sabendo de um roubo de carro ocorrido bem em frente à portaria do prédio onde moro. Uma senhora parou para deixar uma criança moradora do edifício, quando foi abordada por um assaltante armado, que ordenou que ela saísse do carro e nele entrou, levando-o. Na esquina, um comparsa o esperava e entrou no carro que seguiu em fuga.

Até aqui, nada de extraordinário para os espantosos índices de criminalidade que assolam o país. O que assusta é a indiferença e a impotência dos que presenciam fatos assim.

Conversando com os funcionários do prédio, soube que o sujeito ficou uns dez minutos na rua, próximo à portaria, falando (ou fingindo fazê-lo) no celular. Chamou a atenção, mas ninguém podia fazer nada, até porque um chamado para a polícia em tais situações gera uma resposta traduzida numa pergunta: o sujeito fez alguma coisa? Se não, ninguém aparece, nos transmitindo a sensação que temos apenas uma polícia do depois.

Fui indagado se, armado estivesse e presenciasse o fato, reagiria. Respondi que, a princípio, não, pois a rua estava bem movimentada, havia uma criança saindo do carro e o ladrão, pelos relatos, deixava todos os ocupantes do veículo saírem (até com certa calma), para “apenas” levá-lo.  O retruque foi “então não tinha jeito”.

Na verdade, pelas circunstâncias, evitar o fato parecia muitíssimo difícil sem expor ninguém a riscos maiores, mas isso não significa que não houvesse o que ser feito. Havia diversos carros na rua atrás do carro roubado, pois, ao parar nessa via, o fluxo tem de ser interrompido (rua estreita). Outros motoristas viram o episódio e, mesmo após este ter se consumado, nada fizeram, seguindo suas vidas com o pensamento simples de que “bom que não foi comigo”. Mas e se fosse, não iriam querer ajuda?

Como ajudar? Simples: num caso desses, sem expor ninguém a qualquer risco, bastava seguir, mesmo a certa distância, o carro roubado e, pelo celular, avisar à polícia do roubo, dando as coordenadas do trajeto seguido. Não se evitaria o roubo, mas a captura dos criminosos seria facilitada, contribuindo para que, ao menos, a sensação de absoluta impunidade que impera em nossa sociedade diminuísse.

Tomaria uns poucos minutos (afinal, ninguém está sugerindo que qualquer cidadão se meta numa perseguição hollywoodiana) e um pouco do espírito de vida em sociedade seria praticado.

Agora, perguntem-se, quantos fariam isso? Eu faria, afinal, como já se disse, “nenhum homem é uma ilha isolada” e, portanto, o que acontece à minha volta também é comigo. Ou não?

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